Garagem do Amílcar

O blog do Amílcar Filhoses, o Profeta do Agrotuning

17 julho 2007

A posta que se exigia

A qualidade dos vídeos, no post anterior exibidos, impelem-me a fazer uma aprofundada dissecação destes. Uma pérola é uma pérola e, como tal, há que reconhece-la e dar-lhe valor. Esta vem num glorioso par e consegue combinar As Tardes da Júlia com Wrestling Português. Para mais consegue juntar Axel, um cantor pimba fracassado, com um poderoso lutador de 16 anos, detentor de corpanzil de 70 kilos. Se isto não é um espectacular ponto de partida, não sei o que o é então...
O vídeo começa com uma imponente música, de autor desconhecido, mas de fácil catalogação. Situa-se algures entre um genérico do Pokémon com o seu "Vou apanhá-los todos, eu sei que vai ser assim" e um fortíssimo rock bimbalhão. "A vitória está na tua mão, ser o melhor, o vencedor, o campeão" é o mote para mais de 20 minutos de wrestling de nível internacional. Axel, a já referida triste figura, e Júlia, a nova estrela do panorama televisivo parolo da tarde, introduzem o "espetáculo" , apresentando primeiro a APW e depois o enconado árbitro David. A partir daqui tudo é magia.
Axel, brindando-nos com todo o seu génio, introduz o poderoso Jimmy Best, proveniente do Porto com 71 kilos. Jimmy Melhor surpeende pelo seu brutal porte atlético e pela sua entrada à símio, trepando sucessivas vezes às cordas, puxando por um público que cedo se revela entusiasta. "Um deus grego, pequenito, pequenito, pequenito", como é sabiamente descrito por Júlia, revela-se nas palavras de Axel como "o futuro do Wrestling português". Ora, tendo em conta que este rapaz perdeu o combate em cerca de um minuto, não será preciso muito para perceber que a partir daqui será sempre a descer. Não que estejamos num patamar elevado, mas é sempre possível piorar um bocadinho. Até aqui tudo bem. O rapaz pode ser um Deus grego com raquitismo e o futuro do wrestling português. (Se o Axel, que é o entendido, o diz, quem sou eu para o desdizer...) Agora todo este entusiasmo cai por terra com o "é o Benjamin português", proferido por Axel. Para quem não sabe, o Benjamin com o qual o rapaz com nome de jipe é comparado é esta besta:
Salvo improvável doença oftalmológica da minha parte, parece-me que este rapaz, não é lá muito parecido com o Jimmy Melhor. Primeiro, em termos de cara, não podemos encontrar grandes semelhanças. Talvez os sílios vibrateis se assemelhem, mas quanto ao resto não vejo muito mais. Depois o corte de cabelo. Também não pega... Para cúmulo o Shelton é aquilo que normalmente designo de "armário". Já o Jimmy nem por isso. É preciso não esquecer também o invejável bronze de Shelton que, mesmo que Jimmy se esforce, não me parece que consiga alguma vez alcançar. De facto, por muito que me esforce, não encontro outra semelhança que não a franca fealdade dos dois visados. Foi uma boa tentativa Axel, mas falhaste por pouco. Continuemos...
Feita a entrada do já devidamente massacrado Jimmy, surge Arte Gore. Ora, Arte Gore surge como um dos piores nomes possíveis para lutador. Parece surgido de um trocadilho manhoso com hardcore, inteligentemente conjugado, numa nítida manobra de marketing, com o nome do mediático antigo vice-presidente dos Estados Unidos. Assim, seria de esperar um lutador que estivesse algures entre um activista ecológico e um adepto do sado-maso. Porém, o que reparamos é que este senhor não é mais que uma imitação bem sopeira e com barriga de cerveja do Undertaker. Definido por Júlia como a "escuridão", este senhor espanca num ápice Jimmy e assim ganha o combate, de forma justa e rápida. Axel dá a vitória com o seu ridículo sininho e tudo acaba. Sem história. Até que Júlia se decide a apimbalhar ainda mais a sua imagem, intervindo no combate, dando valentes encontrões a Arte Gore. Para salvar Júlia de hipotética traulitada surge então Mad Dog que dá duas festas em Arte e assim o derruba. Júlia diz que "sempre quis ter um homem chamado cão raivosos atrás de mim" e, alucinada chega a chamá-lo de "meu campeão".
Para quem não sabe, Mad Dog não significa "cão raivoso". Significa parvoíce com kilt e cavas dos Metallica, numa clara imitação do Junkyard Dog. Porém, decidindo não ficar atrás, Axel acompanha a patacuada da colega de comentários e decide sair-se com uma daquelas piadas bem espirituosas: "ele ainda por cima tomou a vacina hoje". Ora, se ele foi hoje à pica, isso é algo que a mim, sério espectador, pouco me importa. Se o gajo se espumasse todo seria até, porventura, um belo efeito visual que despoletaria em mim sentimentos de êxtase e qui'ça de loucura. Agora, tendo ele tomado a vacina, perde-se muito. Primeiro espetacularidade. Segundo a hipótese de ver alguém a contorcer-se na televisão, como se possuído pelo demo estivesse. Assim o combate começa a perder interesse. Serão uns minutinhos de sofrimento atroz para o espectador, apenas quebrados com comentários do género de: "Wrestling em Portugal escreve-se APW" , "o público nada contente" e, lá créme de lá créme, "Mad Dod em muitos, maus, lençóis". Com isto se percebe que Axel, para além de não ser um talento musical, também pouco deve aos seus conhecimentos de português. E também que se comenta os combates é porque não há mais ninguém para o fazer. Aliás, veja-se o potencial de Júlia com os seus "cala-te barrigudo!" e "bem feito Arte Gore que é para não seres um bruto!". Sem dúvida que haveria motivos extra para ver os combates que não a patetice inerente aos lutadores.
Perto do fim, perante a pergunta de Júlia sobre o que significaria estar um homem preso nas cordas de cabeça para baixo, Axel atira com uma poderosa punchline dizendo que tal "significa que vai doer!!!", preparando-nos assim para o breve desfecho do combate, bem ridículo, como convém. Mad Dog ganha e torna-se campeão nacional com uma manobra de submissão. O público, uma mole humana constituída por índios de terceira-idade, da tribo da Grandiosa Águia do Mississipi, vai ao rubro e simula uma pequena loucura generalizada. Axel prepara o final da emissão, anunciando próximos combates da APW e Júlia, após chamar o rapaz que apanhou tareia, pede a Mad Dog que exprima um grunhido de vitória. Surgiu um espetacular "Uh, ganhei" com sotaque tripeiro, que marca o fim deste "momento histórico do wrestling nacional", que "marca uma nova era que começa na Tvi e que acaba no Montijo".