Garagem do Amílcar

O blog do Amílcar Filhoses, o Profeta do Agrotuning

08 janeiro 2007

Rambo, a obra-prima de David Morrel

Há uns dias andava na Fnac à procura de qualquer coisa para ler, quando, para meu espanto, encontro lá o livro que procurava desde pequenino: Rambo, a Fúria do Herói.
Acreditem ou não, sempre admirei David Morrel, o autor desta obra. Parece que não, mas é fascinante como pode alguém ter feito um livro de 195 páginas que, depois de espremido, dá origem a, no máximo, 40 minutos de diálogos quando adaptado ao grande ecrã. Amigos, este senhor foi um génio! Comecei por ler o pequeno resumo que vinha na contracapa do livro: “Quando Rambo chegou à pequena cidade de Madison, no Kentucky, trazia apenas consigo um saco-cama e um aspecto cuidado pouco limpo. E foi quanto bastou para o chefe da polícia o expulsar da cidade. Mas esse foi o primeiro erro. Rambo voltou. Depois do que passara no Vietname não estava disposto a deixar que o empurrassem.” Ora, logo esta primeira passagem do resumo dá-nos a entender claramente meia-dúzia de coisas. Primeiro que Rambo era mau como as cobras, que esteve no Vietname e que foi empurrado de forma viril para fora da cidade por um agente da autoridade com desavenças com sacos-cama. Este livro promete, pensei. E, num impulso, fui até à caixa e decidi adquirir a obra.
Devorei-a numa noite. E digo-vos, fiquei deliciado coma qualidade do livro, cujo mérito divido de forma igual pelo autor e pela tradutora. Que beleza de linguagem! Que estilo fascinante e eloquente! Que glamour! Esta obra não merece apenas uma leitura rápida. Merece um estudo cuidado que a afaste de um obscuro esquecimento. Por isso não resisto a partilhar convosco algumas das citações que mais me tocaram neste grande livro.
Por uma questão de coerência vamos espreitar em primeiro lugar para a primeira frase desta pérola da literatura: “Chamava-se Rambo e parecia um Zé-ninguém”. Hummmm… paradoxal por um lado… e bastante elucidativa por outro. Podemos portanto tirar duas conclusões: tinha pais que não o amavam (senão por que motivo dar-lhe semelhante nome?) e não tinha um aspecto assim muito bem definido. Continuei.
Fui lendo mais um bocado e, mesmo no início do capítulo dois, vi a mais bela passagem por que alguma vez passara os olhos: “O ar estava pegajoso da gordura das frituras”. Ahhh…Que bonita imagem. É que não só proporciona uma das mais bonitas visões que já pude imaginar, como também emprega o vocábulo “frituras”, cuja intrincada sonoridade me apraz muito. A apresentação deste tasco em que Rambo entrara estava feita. A cena continua sem nada mais a salientar até que surge a mais jabarda empregada de mesa e faz uma das mais insólitas perguntas até hoje pronunciadas por um ser humano num restaurante: “Como quer os hambúrgueres? Simples, ou com floreados?”. Mas que raio de empregada de mesa é que faz referências à flatulência e respectivo molho na hora de abordar o cliente? O que terá passado na cabeça daquela mulher? Não sei mas, acreditem, também dispenso tal informação.
Sei que a esta altura da minha fulgurante leitura já estava mais que fascinado com esta bela obra. E acredito que vocês mesmo sem terem porquanto lido o livro já partilham da minha opinião. Mas se as citações anteriores foram já de si francamente espectaculares, que dizer da citação que se segue? Pois digo-vos que, se pensam que já viram de tudo no que toca a surrealismo literário questionem-se se será realmente mesmo assim, pois a vossa perspectiva está prestes a mudar. E tudo graças a este grande senhor. Ora vejam: “Aqui e ali, ao longo das bermas, havia animais mortos, provavelmente atropelados pelos carros, inchados e cheios de moscas”. Espera aí! Então se calhar é isso! A bicharada foi toda atropelada porque naquela terra os carros incham com o sol! Caramba, que macabro! Bem depois disto só tenho a dizer uma coisa: Kafka, amigo, arruma as botas e muda de vida enquanto podes que isto de escrever é só para alguns…
Só para terminar deixo-vos só a frase mais paradigmática e que melhor caracteriza Rambo na sua essência: “Estúpido chui, antes de sacares da arma, eu podia manietar-te os braços e as pernas ao mesmo tempo”. (perfeccionista o gajo, hein? Não lhe basta manietar os membros inferiores e superiores do senhor agente antes de este lhe desferir um balázio na moleirinha, como tem de o fazer de forma sincronizada! Começo a gostar de ti jovem Rambo, a sério que sim…).