Garagem do Amílcar

O blog do Amílcar Filhoses, o Profeta do Agrotuning

26 março 2007

Dissertação sobre a acefalia

Todo e qualquer miúdo sonha um dia ser super-herói. Ou mesmo bibliotecário. Mas, o que estará por trás desta nossa obsessão de nos tornarmos em alguém que luta para salvar o mundo? O altruísmo? A preserverança? A sede de justiça? A demência?

Ninguém sabe realmente. A vastidão e complexidade do conceito "super-herói" acabam por se afigurar como um forte impedimento à real percepção deste fenómeno que em muito transcende a nossa capacidade de mandar bitaites, ou mesmo de dizer algo com interesse e nexo de forma articulada e concisa, interessante e apelativa ou mesmo gostosa sem no entanto cair em obscuras redundâncias. Porém uma coisa é certa: quem criou os super-heróis estava, como eu e o meu amiguinho azul felpudinho, com uma moca de ácidos incrível.

Vejamos. Nunca ninguém no seu perfeito juízo idealizaria para um gajo fixe uma combinação que incluía na mesma fatiota o uso de calças de lycra azuis e de cuecas vermelhas. São cores que não combinam. De um lado, um vermelho forte e aguerrido que dá sinais de se querer impôr. Do outro um azul acéfalo que, apesar de não se mostrar amorfo, não se procura destacar das demais tonalidades, parecendo sujeitar-se ao rumo que a cromia dominante lhe parece impôr. Não joga. Para além do mais nunca percebi por que razão procuraram os senhores Joe Shuster e Jerry Siegel sobrepôr à figura do gajo que veio de Krypton e que quer ser bonzinho a figura do Capitão Cuecas. Juro que não...

Outra das coisas que sempre me apoquentou foi a personagem da Storm, a senhora que tem como grande poder controlar o tempo. Primeira razão da minha inquietação: ela tem um super-poder foleiro. Lá me interessa se neva ou faz sol quando o mundo é ameaçado por vilões do calibre de um Magneto?! Segunda razão: Storm, tu não só tens poderes foleiros como és uma macaquinha de imitação. Toma mas é juízo e paga lá os direitos de autor ao São Pedro. É o mínimo...

Por último, gostava ainda de vos falar sobre o cúmulo dos cúmulos da estupidez dos super-heróis: o Daredevil. Há muitos maus: desde o gajo que quando se irrita adquire uma coloração verde ranho e fica burro, ao gajo que se intitula de Thor mas que anda com o chapéu do Asterix na cabeça, a lista é infindável. Mas uma coisa vos garanto: não há concepção mais estúpida que a do Daredevil. Comecemos pelas suas fraquezas. O Daredevil tem fraqueza a sinos. Cá está. Um super-herói tem fraqueza a quê? A sinos... muito bem! Logo aqui é um super-herói que levava na boca do Tareco ou do Noddy, na medida em que ambos usam guizos. Ninguém quer um gajo destes para nos defender, é certo. Quanto aos super-poderes nem se fala. "Ah, tenho os meus sentidos muito desenvolvidos!". "Ah, consigo construir uma imagem mental do que me rodeia através das simples ondas sonoras que capto!" Ok. Que o Daredevil é fixe já deu para perceber. Só gostava um dia de perceber qual a piada de criar um super-herói que, afinal de contas, é um sonar gigante...