Garagem do Amílcar

O blog do Amílcar Filhoses, o Profeta do Agrotuning

03 fevereiro 2007

Mais tralha sobre aborto

Ultimamente os apoiantes do "não" têm repetido até à exaustão o argumento de que assim irão sufragar (e reparem como este verbo assim conjugado adquire todo um belo efeito fonético) pois são a favor da vida. Eu atrever-me-ia assim a citar Noam Chomsky, no seu livro "A manipulação dos Media" para vermos o ridículo desta afirmação:
"Quem pode ser contra isso? Ou como na Guerra do Golfo: «apoiem as nossas tropas». Quem pode ser contra isso? Ou fitas amarelas. Quem pode ser contra isso? Ninguém, pois são palavras desprovidas de qualquer sentido.
Na realidade, que significado tem alguém perguntar: o senhor apoia o povo do Iowa? Pode dizer-se Sim, apoio, ou Não, não apoio? Nem sequer é uma pergunta. Não significa nada. É esse o problema. O problema de palavras de ordem de relações públicas como «apoiem as nossas tropas» é que não querem dizer nada. Querem dizer tanto como apoiar o povo do Iowa. Claro que existe uma verdadeira pergunta que não é feita explicitamente. A pergunta é: apoia a nossa política? Mas não se pretende que as pessoas pensem sobre essa pergunta. É esse o objectivo da boa propaganda. Pretende-se criar uma palavra de ordem com que não só ninguém possa estar em desacordo, como até que toda a gente concorde. Ninguém sabe o que significa, precisamente porque não significa nada. A sua grande importância provém da sua capacidade de afastar a atenção das pessoas de qualquer pergunta que signifique alguma coisa."
Perante isto, e estabelecendo um paralelismo entre os argumentos por Chomsky enunciados e a questão da despenalização do aborto, não faz sentido continuar a afirmar que se vota "não" porque se é a favor da vida. Até agora não vi ainda nenhum defensor do "sim" que não o fosse. Nem perguntar se se é a favor do aborto. Acreditem, ninguém o faz por desporto.
O que está em causa é uma política de cariz eminentemente social. Talvez já seja altura de as pessoas se deixarem de demagogias bacocas. Talvez seja altura de se discutir verdadeiramente a despenalização voluntária da gravidez...