Garagem do Amílcar

O blog do Amílcar Filhoses, o Profeta do Agrotuning

05 outubro 2006

As pistas da Blue

Outra vez no Diz que Disse:
"As pistas da Blue. Por mais que se esconda não há quem na população portuguesa não tenha ouvido falar dessa mítica cadelinha de olhar esgazeado, a Blue. No entanto, e, apesar de todo o esplendor desta série infantil, esta continua a ser marginalizada.Quando me mencionaram pela primeira vez “As pistas da Blue”, eu fiquei curioso. Descrita como excitante, viciante e intelectualmente estimulante, pensei tratar-se de uma nova produção de Woody Allen, que versasse sobre o fascinante mundo do motociclismo. Não podia estar mais enganado.
Desejoso de ver o novo grande êxito da 2:, fui para casa. Pelo caminho recordei uma das frases que Woody dissera numa das suas películas, que tive oportunidade de visionar recentemente, no recato do meu humilde lar. “Acima de tudo, sê original. E, se tiveres de copiar, ao menos copia os melhores”. O engraçado é que, por mais absurda que esta frase pareça, ela é uma das mais bem conseguidas do nosso amiguinho. Só alguém dotado de excepcional capacidade de análise e raciocínio conseguiria reduzir a duas meras frases o “Manual de acesso ao Ensino Superior”, enquanto cascava na obra de Margarida Rebelo Pinto e no seu desmesurado ego.Ao chegar a casa, mal fechei a porta, fui especar-me em frente do televisor. Duarte, um jovem de porte atlético e cara de reguila, já me aguardava. Bem-falante, começou a meter conversa comigo. Uma coisa leva a outra e, lá dei por mim a participar no fascinante mundo da Blue.
Ora bem, mas em que consiste este programa? Passo a explicar. “As pistas da Blue” são um bocado como policiais, mas em ponto pequeno, menos, ou mesmo nada elaborados (tipo Rex, Max e assim). Neste caso, o espectador é convidado para em cada episódio tentar ajudar o Duarte a deslindar intrincados enigmas de forma a perceber o que a cadelinha nos pretende transmitir, mas, que, por impedimentos de ordem biológica, não é capaz de nos transmitir. Para tal utiliza os mais variados objectos, que variam entre a mítica cadeira de pensar ou o simples bloco de notas, onde desenha com traços surrealistas as pistas que vai encontrando.“As pistas da Blue” estão repletas de estranhos objectos. Ora é o bloco de notas, ora é a cadeira de pensar, ora o raio que os parta. A verdade, pura e dura, é que os produtores nos encharcam a moleirinha com estas parvoíces. E a cadeira de pensar é sem dúvida das peças mais enigmáticas deste programa. Eu gostava é que alguém me explicasse porque é que escondem a verdadeira e única cadeira de pensar que eu conheço: a nossa amiguinha de porcelana. Porquê marginalizá-la? Já não bastam as humilhantes condições de trabalho a que estão sujeitas?Confesso; eu nunca fui muito apologista das drogas, mas a verdade é que neste caso estão de parabéns. Na Blue há de tudo: desde paprikas e caixas de correio falantes, ao esparralhoto que dança, aquilo é uma alegria. Mas sejamos francos: aquilo não faz sentido. É como pôr Fiúza ou mesmo Bush a falar: um verdadeiro atentado à inteligência
Mas, o que efectivamente me choca não é a série em si. Ela até tem qualidade. Os enredos batem aos pontos o rival Max e o Duarte é bem mais convincente que o inspector Jorge Mendes. Só não percebo como classificam esta série como “para todas as audiências”. O inspector Max é bastante útil. É aliás, uma série fantástica, absolutamente imperdível para quém pretende seguir o curso de representação canina. Mas e a Blue? O que é que ensina aos putos?Eu proponho algo de inovador para esta estação: uma imitação do Clube Morangos. Quero um programa onde se faça uma imitação rasca do Trl, já de si rasca. Quero um programa que tenha uma apresentadora que se encharca em ecstasy, outra que tem 26 anos e faça anúncios a cremes para adolescentes e um tipo buédas da dread mega fixe que, em cada 3 palavras diga 4 vezes alright e estale veementemente os dedos em sinal de aprovação a comentários parvos. Quero um público cheio de desdentados e com miúdas que dizem: “os meus pais são maus porque não me deixam sair à noite, só porque tenho 11 anos”. Quero anúncios onde se dêem não bicicletas, mas “bikes muita loucas”. Quero um programa com “bandas” que variem entre For Taste, FF e For Taste. Acima de tudo quero assim um programa para os fãs da Blue.O Duarte pode estar a passar-se para o lado negro (leia-se cortou o cabelo à fashion), mas nós, verdadeiros amantes da Blue, não podemos deixar morrer o mito. Por um mundo melhor! Pela Blue!"