Garagem do Amílcar

O blog do Amílcar Filhoses, o Profeta do Agrotuning

08 novembro 2006

Bibelots de jardim

A minha aldeia é bem bonita. Tudo nela resplandece e emana formusura. No entanto tenho de confessar que, o que mais nela me apraz não são as pessoas, nem a possibilidade de uma vida saudável, em perfeita comunhão com a natureza. São sim os bibelots de jardim, essas obras de arte, tantas vezes mal acarinhadas pelo público em geral, que me fazem ver que aquele lugarejo onde habito é sem dúvida o mais próximo do céu a que podemos nesta vida estar.
O bibelot de jardim consiste numa pequena escultura de fino detalhe que é utilizada com o intuito de embelezar os pedacinhos de Éden das nossas humildes casas. Apesar de ter o seu expoente máximo nos anões jardineiros, tem também outros ex-libris como é o caso das fontes com meninos a expelir ácido úrico e os leões e as águias, que embora não embelezem o jardim propriamente dito, se emiscuem nesta categoria por darem um ar imperial ao muro que os circunda. Vamos esmiuçar.
Sempre gostei muito de uma fonte cá da aldeia, em que um gaiato está agarrado ao seu peixinho de estimação ( uma faneca salvo erro. Ou um espadarte, não estou seguro) enquanto segura a sua bem tratada mangueira. E desengane-se quem pense que faço trocadilhos parvos com o órgão reprodutor masculino! Quando digo mangueira não quero dizer pirilau, estacão ou outra coisa qualquer, mas sim referir-me exactamente ao utensílio de bricolage, que, nesta estátua, foi colocado no sítio correspondente ao do pénis. No entanto, apesar da beleza da imagem, tenho sérias dúvidas quanto à racionalidade de tudo aquilo.
Sempre que passo em frente aquele jardim lá está o rapazinho a mudar a água às azeitonas, seguindo o exemplo da sua faneca (ou espadarte) sempre a estrebuchar água da boca. E pergunto-me: que Deus é este que permite que um miúdo com não mais de 6 anos sofra já de problemas de próstata? Aquela incontinência é sem dúvida preocupante, mas, no entanto, em nada se compara à aflição de ver o menino tão pequenino e já castrado. Porquê? Que mal fez ele? E o seu peixe porque esguicha ele àgua todo o dia? Terá morrido afogado, devido às alterações climáticas? Estará o mundo para acabar tal como o conhecemos?
Provavelmente não, mas até era giro. Mas, confesso. Outra das coisas que me faz confusão são os leões e as águias que ostentam bolas de futebol debaixo das suas patas. Não sei se é de mim, mas não me lembro de ter visto um leão, ou sequer uma águia, a jogar à bola. Já vi frangos, armários e cyborgs, mas águias e leões nunca! E, se por um lado admiro a imponência das esculturas, por outro emudeço quando me deparo com estas parvoíces.
O século XXI traz novos desafios para este ramo de actividade. Que caminho a percorrer? Que tendências a seguir? Que mudanças a efectuar? Perguntas a que espero responder dentro em breve.

07 novembro 2006

"Che Che", o próximo documentário de Manoel de Oliveira

Ontem foi segunda-feira. Um dia antes de hoje e um depois de antes de ontem. No entanto foi na quinta-feira que, quando cheguei a casa, ansioso por ver o que a nova edição da Visão me reservava, que percebi que aquele seria o primeiro dia do resto da minha vida. E, acreditem ou não, não precisei de mais do que trinta segundos para constatar que esta, em nada se comparava às outras que eu lera.
Na capa estava o Sr.Ikea, dono da multinacional sueca de móveis, sentado num bonito sofá vermelho. Todo sorridente e enxuto fitava-nos com um certo ar paternalista, procurando em nós o aconchego desejado. O calor que dele emanava, em tudo contrastava com a frígida paisagem que se estendia atrás de si. Não me contive: num súbito ataque de indignação espetei-lhe dois crencos e rasguei-lhe o lábio. Hoje arrependo-me. Na parte de trás estava um anúncio da Triumph...
Mas questiono-me: como pode alguém dar tamanha visibilidade a um patife desta envergadura? Sejamos racionais! Um homem que faça do acto de montar um móvel num enjenhoso puzzle quase ao nível de umRumikkube, a única coisa que merece é o Inferno! Na passada semana tentei montar uma poltrona que trouxe e a única coisa que até agora consegui foi fazer dela um bonito bibelot temático egípcio, em forma de pirâmide agastada pela erosão. Talvez com tempo consiga abrir um Portugal dos Pequenitos à custa deles.
Mas, o melhor desta revista ainda estava para vir. Ao chegar à página das citações deparo-me com uma das maiores parvoíces dos últimos tempos. Manoel de Oliveira, num momento de particlar infelicidade disse algo deste género: "Não sou como o Woody Allen que faz um filme por ano. Eu, em 2006 fiz três e vou já a caminho do quarto". Mesmo partindo do pressuposto que Manoel não faz referência a nenhuma assoalhada nesta frase, ela continua a ser um expectacular momento de senilidade. Algo quase ao nível de escrever "espetacular" com x.
Será que o Olivas nunca ouviu a célebree frase de James McNeill Whistler que diz algo como "um artista não é pago pelo seu trabalho, mas pela sua visão"? Provavelmente não, mas também não interessa, uma vez que a citação não está assim tão bem conseguida, na medida em que ambos estão bastante bem servidos de dioptrias.
Mas, Manoel pareces padecer da mesma patologia de Cid: o complexo de inferioridade. Porquê a insistência de os artistas se compararem? Eu compreendo que às vezes precisemos de nos afirmar, mas, Manu do meu coração, não me parece que precises disto para dar nas vistas. Está bem que queres mostrar que ainda estás aí para as curvas e que fazes longas-metragens na boa ( e se a expressão longa-metragem ganha toda uma nova dimensão quando associada ao teu nome ), mas não havia necessidade pá...
Depois admiras-te que Al Hilali tenha como sub-texto informativo "guia espiritual da comunidade muçulmana na Austrália" e tu simplesmente "97 anos"...

06 novembro 2006

Ás de Paus

Boas, saudosa nação agrotuner! Desta é que é, está inauguradíssima a secção alternativa do tractor! Mas como já referi no anterior post, o meu conhecimento desse nobre transporte rural equipara-se à inteligência de espectadores assíduos de Morangos com Açúcar e Floribella. Portanto, que melhor tema a abordar que a dimensão espiritual do tractor? Vistas bem as coisas, eu próprio poderia deitar as cartas a mim mesmo de modo a obter as respostas que preciso, é o que eu faço. Mas para uma viagem tão longínqua preciso de uma visão exterior à minha, pelo que fui impelido a consultar uma das mais conceituadas fontes de conhecimento de toda a História da Humanidade. Não falo da Enciclopédia nem mesmo do Duarte, embora ambas sejam uma concorrência levada da breca. Pois muito obviamente que falo desse mui famoso vulto do mundo cartomante/massagista, o Professor Bolinhas. Dirijo-me ao seu conceituado estaminé (brevemente disponível nos Classificados) de modo a obter respostas. Eis o que ocorreu:

Asdrúbal Face – Bom-dia, sotôr.

Professor Bolinhas – ‘Dia sôr Asdrúbal.

AF – C’um escamartilhão, como raio sabe?!

PB – Está tudo nos cartões.

E é neste momento que na minha mão encontro alojada toda uma panóplia dos meus cartões pessoais e intransmissíveis, todos com meu nome gravado. Entre eles se encontravam o Vista e o Banco Múltiplo! Após o pagamento em adiantado, a saga continua:

PB – Ora então quer saber sobre tractores, não é assim?

AF – Não me deixa de espantar, professor.

PB – É que sabe, eu já li este post.

AF – Ah, bom.

Sou instruído a tirar uma única carta do extremamente bem conservado e brilhante baralho feito em Taiwan, revelando-se ser o Ás de Paus. E é aqui, meus compinchas, que a resposta me atinge como uma pá na nuca! Toda a sabedoria do tractor e do agrotuning em geral são direccionados ao ás do pau! Àquele que domina o pau, que dá pau e a quem o pau não esconde segredos por detrás de um véu da feira da ladra! Em suma, é o homem de barba rija materializado em toa a sua glória num bicho de dois cavalos e meio!

PB – Vejo que teve uma epifania.

Pois não é tarde nem é cedo, encaminho-me sem demora às Urgências dos competentes serviços de saúde, que isto hoje em dia a malta tem de estar alerta sobre essa bicharada que aí anda. E uma epifania não é brinquedo.

Cumprimentos epifanados em fase de tratamento,

Asdrúbal Face